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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

NEBLINA




 Não faço poemas

munido da crença

de me libertar

de alguma chaga...

Não daria certo

pois quando escrevo

a isca do verso

desce o poema

com os meus fantasmas

e juntos à mesa

bebem num só trago

a minha represa.

Depois vão embora.

E toda vertigem

voa na fuligem

do breu da aurora.
 
 

sábado, 28 de dezembro de 2013

AINDA QUERO II


Sobre “Não Quero Mais”, poema de Ted Marimba.

não quero mais
muitas coisas
pois só o poema

não sei, é anfetamina
de tanto verso
que disseram
que eu cato

no dicionário. Pensei
em minhas importâncias
nas desimportâncias
no sonho do infinito

decidi deixar
a velocidade das arquiteturas
entrar de vez no ritmo das nuvens


posso ver zil telas
esboçadas no dia
e
acendo a vela
no olho da ventania.

 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

PROGRESSIVA



É tua a imagem que me teima
entre os escombros das alamedas
desasfaltadas dos meus pensamentos,
tão proibidos, que se reinventam
em dízimas de nãos - as periódicas -
desta matemática infinita
sem razão exata, pois sibilina
é a tua teia que me enforca.
E como escapar destes fantasmas
multiplicados que vêm e me cortam
fundo, de escápula a escápula,
mas ao mesmo tempo me revigoram?
É tua a imagem que me queima
e tua a alma que me algema.

PEDIDOS


Peço que não me mate
junto desta orquestra
que pulsa embalada
a fim do tom mais grave

dos confins mais longínquos
da minha alma fria,
de éter, bailarina,
que no ar rodopia

sobre o bafo quente
de versos decadentes
que faço e desfaço,
que bebo e engasgo

nas frestas da aurora
e no fio do ocaso.
Peço que não me corte
a vida... Nem a morte.



sábado, 21 de dezembro de 2013

INDEPENDÊNCIA OU MORTE


Os seus nãos não são nus são sins vestidos

da paúra pálida dos desejos

que você prefere assim detidos

na sombra da sua cela de medos

onde as vozes que julgam seus passos

ainda legislam na sua vida

os princípios crus da hipocrisia:

faça o que digo; não o que faço.

E enquanto você não der um golpe

no seu próprio estado de espírito

e que liberte todo o arbítrio

acumulado, nunca será forte.

O dia a quer ida, quer aposta,

mas que saiba o caminho de volta.
 
 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DIA DE DOMINGO




Aurora ainda espreguiçava

quando teu olhar, em mim, se lançava

feito se eu fosse a tua presa

e tu a majestade das tigresas

 

nesta mágica que se instalou...

O que era caça se transformou

em caçador... Toda a minha lança

armada nas curvas das tuas ancas.

 

E nem a ressaca do meio-dia

− quando o sol a pino nos condena –

desfez o encanto; não foi antídoto...

Restou uma só palavra: obscena...

 

E aquela derradeira imagem:

minha carne dentro da tua carne.


 

Marlos Degani

Minha foto
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com