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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CARTA ABERTA


Oi amigos e amigas

Parei de reclamar da subida

Dois mil e dez já está sem pilha

Foi feito a vida

Acerto e armadilha

Ocaso e alvorada

Bom dois mil e onze

Nem ouro nem prata

Pra mim tá bom o bronze.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AFINS

E foram beijos mais do que beijos;
romperam as fronteiras das línguas
─ que serpentearam intumescidas
nos céus de um só céu de desejos,

raro superlativo de querência:
um a faca o outro o queijo,
um a fome o outro prato feito,
um o sim o outro indecência.

E foram movimentos sem tempo;
ali conviveram tensão e calma
somados ao doce estranhamento
do corpo mais leve do que a alma.

E foram amplos tudos indigentes;
chamas cheias de suor carburente.

domingo, 12 de dezembro de 2010

VULTOS

Vejo vultos
no escuro
vejo vultos
todos mudos
serão surdos?

Vejo vultos
são absurdos
vejo vultos
não são muitos
têm intuitos?

Vejo vultos?

LUCIDEZ

A lucidez é um fantasma
que, insolente, te ataca,
te segura e desloca
o ocaso à aurora;       

remove o breu das capas,
do Mephisto a maquiagem,
do verso a existência
e do poeta o poema.

A lucidez é vantagem
volátil, desvantajosa:
sua mó tritura as máscaras,
mas também sem dó te isola

no adro negro da razão
onde toda a emoção
agora é água passada
sob a ponte do nada.

A lucidez é um fantasma.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MEDO

Sim: tenho medo,
um falso receio,
um inquieto
calor discreto

que coze entranhas,
que frita o sono
imerso nas banhas
do abandono.

Meu grito é cego,
só, boquiaberto,
lodo no rochedo.
Sim: tenho medo.

Marlos Degani

Minha foto
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.