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segunda-feira, 13 de julho de 2015

AS HORAS



Teve hora em que me pus cachorro 
louco, roçado, tudo em você,
embrenhado dentro dos seus contornos;
e entre as suas beiradas, sede,
ofegâncias e onomatopeias
incompreensíveis: uis, ais, ois, eis
que o mundo é todo meu e seu,
um de uma musa e um poeta.
Tem hora em que ainda pretendo
acreditar na possibilidade
de correr desta imensa saudade
do seu beijo: meu único unguento.
As horas eram melhores, mais lívidas
da poesia sob as nossas línguas.



domingo, 12 de julho de 2015

FRETE



        
Eu tive de trazer você comigo,
seus cheiros muitos que vêm por detrás
do meu cangote e que se espalham
pelos pelos do rosto contorcido;
e descem ferozes aos meus mamilos,
vão e voltam. Entram e saem rápidos
nos dois buracos das minhas narinas,
entre mil calafrios de saudades.
Eu tive de trazer você em partes
e em várias das partes do meu corpo,
feito se eu carregasse um sonho
que recusa ter linha de chegada.
Eu trouxe seu hálito, seu jardim
e sua neve quente. Só. Em mim.


Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.