quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
CARTA ABERTA
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
AFINS
domingo, 12 de dezembro de 2010
VULTOS
LUCIDEZ
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
MEDO
um falso receio,
um inquieto
calor discreto
que coze entranhas,
que frita o sono
imerso nas banhas
do abandono.
Meu grito é cego,
só, boquiaberto,
lodo no rochedo.
Sim: tenho medo.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
TERZINAS PARA UM GRANDE AMOR - CANTO I
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
INSÔNIA EM ONZE PARTES
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
QUEM SABE
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
DESPEDAÇADO
sábado, 18 de setembro de 2010
INCOMPLETO
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
ECOS DO ONTEM
de mim, droga que seduz e corrompe
a aurora ─ e pretende reinar
sobre as tuas horas e teu ar,
que fecha a porta e a janela,
o tirano enxuto que governa
as terras erosivas da inveja
e o estrago que ela carrega?
De que jeito deleto este eco
(tudo que penso e quase me cega)
intenso, e nos ossos reverbera
diante da razão que me renega
quando de novo e de novo peco
na lembrança que em si desespera?
(com Jorge Cardozo)
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
ACUADO
entre sinistros becos revestidos
do breu silencioso, do pecado
que o dia tornará encerrado.
Nada mais me resta nesta terra
(de pouco eu te amo, de inveja),
e nem mais do poema tenho medo:
ele não virá nem tarde nem cedo.
Doo esses meus minutos vazios
às nuvens infinitas, ao matiz
furta-cor que o sol equilibra
na força que vem da ventania.
Noite vem; alugo o pesadelo
mas não escapo do seu enredo.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
E
e morderia, amplo, dorso a dorso
e em cada curva, chuva de alegria
e poder ouvir este teu uivo agudo
a exigir mais e mais e mais e tudo.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
GORJEIOS XI
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
PARA AMAR
conter o magma que se irrompe
de dentro dos teus segredos, do cofre
sepultado no além do longe,
na cova rasa do teu egoísmo
a exalar este nauseoso
chorume do verso carcomido
e que torna o ar fuliginoso.
Quanto mais se ama mais se deve
navegar nos leitos de teus rios
saber quem é veia que te serve
quando tudo parece vazio.
Quanto mais se ama mais se afia
o gume da garra da harpia.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
DESMEDIDO
inquieto
nunca se pôs
arquiteto
planta baixa
indeciso
linha parca
impreciso
este nanquim
derramado:
nega o fim
e o pecado
tinta fresca
de orgasmo.
(com Vinicius Silva)
domingo, 8 de agosto de 2010
ESPÓLIO
além da resignação
de saber que a sua meta
não passa duma ilusão
(pois o poema é cavalo
selvagem; faz da comitiva
do verso, alvo suicida
neste pântano do fracasso)?
O que resta ao poeta?
Uma rara percepção
do poema − uma prisão
que ao mesmo tempo liberta?
O poema não aparece;
nem se Ele fizer a prece.
ISCA
Nada acaba:
fim é fantasma
que todos propalam
mas ninguém resvala;
nada acaba:
fim é cilada
é cão que não ladra
mas que tem raiva
e vil te crava
no auge da fala
da falácia:
o fim é vala.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
OCULTO
Busco o verso voluptuoso
que alforrie toda a imagem
que inunde o que houver de oco
e faça poesia desta tarde.
Busco o verso exasperado
que seja bailarino, mas exato,
que avance além da página
e permita o poema em lágrima.
Busco o verso multifacetado
que expanda todos os sentidos
que dispense os astrolábios
e colha estrelas do infinito.
Busco o que não pode ser achado
pelo poeta, Deus ou o Diabo.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
GORJEIOS X
O hoje de hoje é mais hoje do que o hoje de ontem. O ontem de ontem, continua sendo o ontem do hoje. Legal é nada saber do amanhã do amanhã.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS IX
Ando impaciente por demais. Com tudo, com todos. Ai de quem me ama. Mas sou teimoso por demais também. Não valho a pena, mas insisto em mim.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS VIII
Tenho dificuldades em me despedir. De tudo. Das pessoas, de um disco, de um livro. De um dia esmo. Eu só consigo é me despedir de mim mesmo.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS VII
Nunca gostei de saber da vida de ninguém. O que é importante e significativo chega até você. Espontaneamente. Não gosto nem de saber de mim.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS VI
Nunca se pretenda muito. Desgarre-se de você mesmo. Corte o cordão que o une a seu umbigo. Observe de um outro ângulo; pratique a humildade.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS V
Eu mesmo me explico quando me complico e me ajoelho nos meus milhos. E visto as minhas preces nuas e ouço os ecos dos meus próprios gritos.
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS IV
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS II
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS III
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
GORJEIOS
* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani
domingo, 25 de julho de 2010
MAREMOTOS
para quem a macia quentura é o ar
que se tem de, sufocado, respirar
meio às frestas de infinitas casas
de um corpo mais do que um corpo
a doar mil gozos para os meus gozos
de uma alma mais do que uma alma
a diluir entre méis o caos em calma
− antônimo radical do que seja descanso
mas, e sim, de certa vagarosidade acesa
íntima de mil atalhos dos flancos insanos
que velozes rebentam a brasa em labareda.
O amor passeia na chuva e não crê no pranto
pois o egoísmo, o único inimigo, já é oceano.
terça-feira, 13 de julho de 2010
NAUFRAGADO
tentar sobreviver até à tona,
resistir à pressão de sua sombra
que faz fim de sua parca nobreza
e espalha o olor da sujeira
que você cobriu de covardia,
de armadilha em armadilha,
de avareza em avareza.
Poemas são superfícies falsas,
o ar do verso é mentiroso
e o poeta morre afogado
sem ninguém que vele o seu corpo.
Emergir de dentro de você mesmo
é desnascer além do seu sesmo.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
ANÁLOGOS
e todos os matizes infinitos de sua paleta:
brancos, ocres, roxos, carmins e magentas
- ocaso furta-cor que sucumbe à noite veloz.
Há mil encantos nos balés dos oceanos
e todos os matizes infinitos de sua paleta:
verdes, pretos, berinjelas e azuis de veneta
que corto com a afiada quilha do meu pranto.
Há mil encantos no poema e até Deus duvida
que é feito a vida: parece, mas nunca foi finita.
MORTO
este que, dos féis, é o mais poderoso,
pois não há nada mais triste e absorto
(tua ausência que me dói dorso a dorso)
do que o cinza severo a tingir o dia e o choro,
maior do que o mar ─ e que conclui o corpo
sem ladainha nem vela nem reza nem coro:
somente eu posso e ouço o meu grito silencioso.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
RESGATE
contra essas chibatadas
que a tua ausência
me crava quando alimenta
a minha dor em carne viva
(bem junto da alma aflita)
e me prende num labirinto
sem novelo e sem arbítrio.
Só a tua luz aberta
me ascende das cavernas.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
ENCANTADA
mas em sonhos e versos enxergo
as tuas curvas exuberantes
e teu beijo - concerto do instante -
é foz e nascente dum mel selvagem
que descerra anseios e vontades,
que acha no breu uma nova fresta
por onde a vida se manifesta.
A pá do poema junta meus restos
que te procuram cegos e sedentos
num mar negro - sem fundo e espesso -
do naquim borrado no palimpsesto.
Te amar é recolher encantos
no sal do teu riso e do teu pranto.
terça-feira, 4 de maio de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
ÂNIMA
de todo o tudo do universo,
nem o soluço mudo, esta neve
que me desce e solidifica
a vida que desisto de viver;
e nem Deus saberia entender
dessa dor que reverbera intensa
nos ecos ocos da tua ausência,
esta chuva amaldiçoada
de gritos, de gemidos e de lágrimas,
uma tempestade de saudade
quando te vejo por todas as partes.
Meu corpo ainda acalenta
o mel do teu beijo que me sustenta.
sábado, 17 de abril de 2010
NÁUFRAGO
sou de insoluções − pó e febre − ,
infinito − cheio de vazios
que jamais serão preenchidos
pois na liberdade desses espaços
é que o poema reina em mim,
onde há caminho, não o atalho;
onde há capítulo, não o fim.
Não possuo as peças que faltam
no quebra-cabeça da minha vida,
não me respondo nas sabatinas
dos tribunais das madrugadas.
Tirei há muito as mãos do leme:
fiz do vento meu próprio presente.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
AMARIA
sim, sinto, te amaria,
tanto, que ninguém amaria.
Confesso: te amaria,
cuidadoso te amaria,
fogoso te amaria,
vagaroso te amaria,
belicoso te amaria.
Amaria e amaria;
começo e fim: amaria.
terça-feira, 13 de abril de 2010
ASSIMÉTRICO
sou de avessos - alma e carne - ,
invertido - piso com a palma
da mão de pena atravessada
que impede o encaixe
numa inquieta assimetria,
onde há canastra, não o descarte;
onde há verso, não a poesia.
Assim vou ao meu próprio beco
e teço outra encruzilhada
além do desdém que me ataca,
da tirania do fim e do medo.
Sou só, mó de metro despedaçado
que mói as sobras do meu cansaço.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
FRAGMENTOS
− onde a vida pulsa secreta
no mistério que a sustenta −
que minha alma presa é aberta.
A poesia não é do poeta
e nem luz para a tua caverna.
MARLOS DEGANI: «Poemas». Em: Soneto Partido. Nova Iguaçu: inédito, 2010. Fragmento final – verso 9˚ ao 14˚.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
SÓ O AMOR II
− o que viaja sem passaportes,
o que dispensa quaisquer transportes,
o que não é aurora nem ocaso,
o que te invade sem alarde,
o que confunde o sul com o norte,
o que em plena tarde te abate,
o que te deixa à própria sorte.
Se eu pudesse, compararia:
o amor é o ar que se respira.
SÓ O AMOR
e faz de mim um cego bem no meio
do penhasco, onde cada passo
precisaria ser planejado
− ali não há nenhum intervalo,
mas visito e sou visitado
por uma coragem infinita
que me ergue e me ilumina.
Teu amor generoso ensina:
tudo começa quando termina.
terça-feira, 16 de março de 2010
INTENSIDADE
que se compare ao brilho
deste teu olhar infinito
- esplendor do azul aberto
onde o céu está contido
e o mar elege abrigo.
Não há poema ou verso
que traduza o espectro
de uma nova saudade
que me doma e me invade.
sexta-feira, 5 de março de 2010
CIGANO
nem encaixada palavra;
nele não há matiz ou plasma
─ só o desdém à tua lágrima:
é éter que evapora,
que dói e vai embora.
terça-feira, 2 de março de 2010
SALTOS
do fim dos fins
feito este vento
a ventar em mim.
Virá um tempo
do entendimento
natural e nascido
na força do infinito.
Virá um tempo
do discernimento
de amor costurado
na tesoura do pecado.
Virá um tempo
do doar intenso
de amor, de asas e deste exercício
de se pular no seu próprio precipício.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
REFLEXOS
e trituro
- faço pó
e mudo
o urro
e sem dó
nego só
o futuro.
É preciso
a carne
e um grito
que abafe
o gemido
que arde
sem alarde
sem destino.
Sou espelho
de mim mesmo.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
ALMIRANTE
uma vez só seria pouco
no mútuo nasce e renasce
entre as ancas do teu corpo,
numa viagem sem chegada,
feito aquela do poema,
a de nunca se ter a caça
ou cabaça como emblema.
E a quilha do meu navio
quer singrar o teu mar bravio.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
ULTIMATO
do que estes, os do poema
(camuflagens de esquemas
sem luzes verdes nos sinais),
que convidam o ingênuo poeta
aos brilhos efêmeros duma festa
onde até o tudo parece permitido,
mas é o nada que assina o recibo.
Minha pena é a capataz da tortura
que visto avisado: dela não há fuga.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
EU TE OCEANO
não tente me domar, me decifrar
nesta reta de começo, meio e fim
que é a tua maneira de raciocinar
o mundo, pois o teu grito é aberto,
trafega volátil no céu e no inferno,
faz do teu abraço, aula de abraçar,
faz do teu verbo, arma de perfurar.
Não me amedronte com conselhos,
não pense que não encaro o espelho;
vejo o infinito refletido no meu olhar
e a certeza: é preciso sempre buscar
a utopia cabal e completa dos sentidos;
um estágio de éter: ali não há o epílogo
intolerante, são livres todas as palavras
do jugo umbilical do poeta escravocrata.
Não me venha com essa ou com aquela:
deixa o meu vento ventar nas tuas velas.
AUTO-RETRATO
de aquarelas sem cores
− de dúvidas e infinitos,
de sombras e bastidores,
tomado por este teimoso fracasso:
o de caçar o poema e o seu cabaço.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
AMARGOR
da cultura feroz e egoísta do poeta;
e não há mel algum nessa colméia
de favos repletos de pus e miséria.
CANDEEIRO
quando flutuo a esmo
(da carne ao esqueleto,
da denúncia à sentença),
imerso neste esquema
de não ter fim nem começo;
blefa: põe fé no tabuleiro
e traveste a algema.
Não há luz no cativeiro:
é do poema o candeeiro.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
SEREIA
a morte, num raio, fecha tudo o que se abriu;
ama a vida na dor que sabe a lição do diário:
a chama chama, mas não pode beijar o pavio.
A PARTIR DO A PARTIR
não lhe importa saber se tudo ou se nada,
mas há tanta vida no meio, no pomar lotado,
que ela morde a maçã: viver é o seu pecado.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
CRISTALINA
não tem fim ou meio, mas começo;
não há destino de onda em sua vela:
a morte é o vidro chovido da janela.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
TOLICES
Tem gente que defende que só há a sua sensatez.
Tem gente que mescla a poesia com o umbigo.
Tem gente que pensa que o poema era uma vez.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
ALFAIAS
que acredita na força da pena
que pode outorgar a sentença
do verso ou da sua intimidade.
Ai do poeta, do seu trêmulo estandarte
que se desfaz na brisa rubra da tarde.
SÓ E SEM
quando a noite só trazia pranto,
grito, cheiro de flor, soluços, espanto,
insônia, nicotina, pílula, desencanto.
E insisto vivo no visgo deste tempo de fuga
onde o meu choro ainda só chora na chuva.
sábado, 16 de janeiro de 2010
AUSÊNCIA FATAL
que somente faz nó com o gozo do que já passou.
Mas é a tua afiada ausência que faz sangue neste agora
feito uma silenciosa guilhotina que se irrompe e me degola.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
DESAFIO X
que serviu apenas para o nada
pois o poema não é a palavra
lançada e não mora na ferida
do poeta imerso em seu umbigo
que se define o patrão do infinito
e faz do verso um conto de fadas
a serviço da sua próxima lágrima.
E nunca aposte nenhum centil na esperança:
o poema declina. Não tem par em sua dança.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
DESAFIO IX
é a que oferece, nos bordos do umbigo,
este quase irresistível e fatal batismo
de poeta: versador pronto para versar.
Somente o malandro é quem afasta
o embate direto da chama e do pavio
pois nenhum deles vence o desafio
que apenas existe porque não acaba.
Sigo fissurado e perdido no breu sem mapa
desta conectada cilada azulada de plasma.
domingo, 10 de janeiro de 2010
DESAFIO VIII
de inutilmente lançar falácias
instantâneas (tecladas na tela)
nesta vil ilusão que reverbera
o eco oco, o decibel do nada,
um timbre oculto, às avessas,
que reabastece a pena cega,
esma, rombuda e sem estrada.
Espera um dia; a brincadeira acaba:
nos sete palmos úmidos da palavra.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
DESAFIO VII
(num parto exposto de palavras
diretamente digitadas neste plasma)
a amamentar o embrião natimorto
que nenhum deus poderá salvar
pois não há substância no colostro
do improviso, da maquiagem barata
que atenua a palidez do seu rosto.
O poeta continua a brincar de poeta;
mas não esconde a dor que o atravessa.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
NA DOR
— que não passa pela ubiqüidade;
cada dor sabe de que jeito arde
e do nome que há no batistério:
culpa, orgulho, adultério,
desamor, ciúme, falsidade,
inveja, soberba, critério,
epílogo, mentira, verdade,
ignonímia, ódio, saudade,
abandono, invisibilidade,
discriminação, arrogância,
injúria, mordaça, ignorância.
Há na dor uma altiva certeza:
ninguém escapa da sua presa.
DESAFIO VI
que te invade pelas narinas,
faz do não, sua breve piada
e parte sem ser anunciada.
O poema é a antítese fugidia
que contém o tudo e o nada,
ingredientes desta armadilha
- a de não saber o que se caça.
Pode haver a palavra camuflada nos estilhaços;
mas não há o poema: nem nos pequenos frascos.
Marlos Degani
- MARLOS DEGANI
- Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
- Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.