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terça-feira, 21 de outubro de 2014

SÚPLICAS



Que meu pai não me sopre nenhum verso,

nunca soprou, só se não dei ouvidos,

nunca dei, mas só depois de ter ido,

foi preciso assim, sem decibel,

para que o meu tímpano estúpido

começasse, enfim, a decifrar

o dialeto que ele usava

− aquele estranho silêncio púrpuro.

Que meu pai não me veja deste jeito,

lacerado, todo, lado a lado,

por uma inapelável saudade

que desfaz o que já está desfeito.

E é a voz do meu pai que revela:

não sirvo para nada. Sou poeta.
 
 
 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

OFF



E nessas trilhas do poema

quando flutuo só, a esmo

(vou da carne ao esqueleto

e da denúncia à sentença),

 

imerso neste seu esquema

de não ter nem fim nem começo;

blefo a fé no tabuleiro

e engaveto a celeuma.

 

Não. Não há luz no cativeiro:

o poema não tem novelo.
 
 
 

Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.