Que meu pai não me sopre nenhum verso,
nunca soprou, só se não dei ouvidos,
nunca dei, mas só depois de ter ido,
foi preciso assim, sem decibel,
para que o meu tímpano estúpido
começasse, enfim, a decifrar
o dialeto que ele usava
− aquele estranho silêncio púrpuro.
Que meu pai não me veja deste jeito,
lacerado, todo, lado a lado,
por uma inapelável saudade
que desfaz o que já está desfeito.
E é a voz do meu pai que revela:
não sirvo para nada. Sou poeta.
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