A vida que deixei de saborear já não me basta;
nela nunca houve apelos de linha de chegada
tampouco a nefasta ilusão da falácia que sustenta
ser mel e finita o fel e a dízima periódica do poema.
A vida que deixei de enxergar já não me aponta
o frescor da manhã e a adstringência das brisas
que renovavam a pesada maquiagem bisonha
(paliativo ungüento contra esta dor que não termina).
A vida que deixei de tatear já não me incendeia
os pelos deitados nem enruga mais o mamilo
adormecido que outrora se vestia intumescido
mas que agora somente a saudade manuseia.
A vida que deixei de perfumar já não me entorpece
as narinas quando avisto de supetão o jasmineiro
que impregnava exuberante o meu corpo inteiro
e catapultava obstinado o seu olor feito uma catequese.
A vida que deixei de escutar já não me desconcerta
a alma paralisada que estranha aquela sublimação
de sons, tons e tocatas quando todo o peso sai do chão
e cria poderoso o vento que descerra a alfaia encoberta.
A vida dessas vidas que deixei lá fora no sereno amontoada
respira no aparelho que ainda sonha e quer e ruge e te aguarda.
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Marlos Degani
- MARLOS DEGANI
- Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
- Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com
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