I
Podes até achar vil e soberbo
fazer do meu humílimo soneto
um estandarte, resumo e ápice
de toda esta contrariedade
que a tua estúpida e bífida
língua, que de tão azeda, amarga
à repulsa, além da ojeriza,
a maresia das tuas palavras
−
cardume flutuante de falácias
modorrentas que apenas exalam
este olor de ontens repetidos,
este samba mudo, sem surdo, pífio.
Resta a tristeza, o desperdício:
não saber-te teu maior inimigo.
II
Foi-se o que havia na garrafa,
mas não me sinto anestesiado
pois este parto que é o poema
jorra sangue e dentro da placenta
nada há; é natimorto o feto
−
desorganismo amorfo de versos –
que irrompe quando a alvorada
lança sobre o breu da madrugada
um feixe da fresta que é aberta
−
aí é que se fode o poeta
que detesta luz em sua caverna –
e faz cinzas da inútil matéria...
É sobre fracassos o meu trabalho.
E o teu? Caçar o próprio rabo?
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