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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

INFINITOS


 O que o mar sim ensina ao canavial:
  o avançar em linha rasteira da onda;
  o espraiar-se minucioso, de líquido,
  alagando cova a cova onde se alonga.
  O que o canavial sim ensina ao mar:
  a elocução horizontal de seu verso;
  a geórgica de cordel, ininterrupta,
   narrada em voz e silêncio paralelos.

(João Cabral de Melo Neto em “O mar e o canavial”)

  
Agora o meu verso sabe
de que os fins não são estáticos
e o poema e a vida
acabam, mas nunca terminam.

Da vida o poema tira
a teimosia das auroras
que vão feito marés; e voltam
e permitem o novo dia.

Do poema a vida tira
a teimosia dos rascunhos
que já rebentam moribundos
− escravos que são do futuro.

Da vida o poema nega
a sombra disforme do corpo
pois toda a sua matéria
não roça na pena do homem.

Do poema a vida nega
a solidão da madrugada     
de um papel que não revela
o xis de sua matemática.

O poema é uma vida
e a vida é um poema?
Se a vida for um poema...
O poema, vida, nem liga.

  

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Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com