O que o
mar sim ensina ao canavial:
o avançar em
linha rasteira da onda;
o
espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando
cova a cova onde se alonga.
O que o
canavial sim ensina ao mar:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada
em voz e silêncio paralelos.
(João
Cabral de Melo Neto em “O mar e o canavial”)
Agora o meu verso sabe
de que os fins não são estáticos
e o poema e a vida
acabam, mas nunca terminam.
Da vida o poema tira
a teimosia das auroras
que vão feito marés; e voltam
e permitem o novo dia.
Do poema a vida tira
a teimosia dos rascunhos
que já rebentam moribundos
−
escravos que são do futuro.
Da vida o poema nega
a sombra disforme do corpo
pois toda a sua matéria
não roça na pena
do homem.
Do poema a vida
nega
a solidão da
madrugada
de um papel que
não revela
o xis de sua matemática.
O poema é uma
vida
e a vida é um
poema?
Se a vida for um
poema...
O poema, vida,
nem liga.
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