das horas se esvazia
Ivan
Junqueira, Vésperas
Ventos às ventas e a
duna
− que compensou todo o
déficit
de atenção que me impede
de dar o tempo da
fritura
do óleo quente da
palavra –
é poeira na mesa dura.
Pouco a pouco a penumbra
escapa e nem a fumaça
de pós, suores e
cigarros
consegue mais atenuar
o que a aurora desvenda
− a maquiagem do poema
borrou os garranchos
doídos
(e alguém daria
ouvidos?)
e deixou agora o dia
e os barulhos desta vida
que se anima à medida
inversa da qual o poeta
só das horas se esvazia
e do vazio se completa.
E quando é tanto o nada
de que no nada se
instala
ocorre o que muita reza
pediu para que não se desse:
as louças do café se
mexem
e como se a mim
dissessem
no dialeto dos ruídos
que de novo fui
consumido
sem verso, sem ar, sem
espólio
que não seja o do
cansaço
da sudorese dos meus poros.
Cada segundo chicoteia
entre a neblina da
sala
e parece que é dobrado
nestes ecos que me
tonteiam
as vísceras e os relógios
que, enfim, não mais
me norteiam.
Ficou este amanhã seco
e seu deserto sem
ponteiros.
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