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terça-feira, 21 de maio de 2013

UBÍQUO



O poeta não carece ─ feito o clichê da tua sentença ─
de desequilibrar-se em seus próprios e cálidos passos
nem depende, por desimportantes, dos erros crassos
já que pouco ensinam sem a lição da rara clarividência

que vislumbra, abriga e aceita uma essencial submissão
─ não aquela cega, de joelhos, curvada e perdida
dos fracos, dos crentes depositários, dos milagristas,
dos que vestem a fé das esquinas e clamam por salvação.

Teu decreto, em majestosos versos, defende a tese
de que a reflexão desse poeta se resume num amplo nada,
num vazio hermético onde ele é bolha e resplandece
em elucubrações cíclicas, demiúrgicas, alucinadas;

nele, reza ainda, um improvável e ácido entendimento
sobre as batalhas que ele trava na solidão das madrugadas,
postas na angústia veemente ─ revertida em fomento ─
que trafega na via onde nem tudo precisa de linha de chegada.

Ateia a chama poderosa da coragem e da realidade
no elo desse cadeado de titânio que tranca as cercas
léxicas do teu cômodo e já explorado hectare,
alça um novo olhar no alvo e na veia das veredas

infinitas do poema, da sua dimensão aberta,
do seu arcabouço indomável, dos seus deltas,
dos caminhos que te convidam ao mistério
de querer sabê-lo sem feri-lo com a tua flecha.

Não posso condenar-te por recusar uma busca
que não tem fim e que só oferece a derrota
inegociável, dura, carrasca, insana, crua,
feito o riso pálido de uma incompreendida anedota

que estoca a tua cabeça e teimoso te cobra
a solução, a raiz, o xis que fugiu pela porta
e que te deixa angustiado, preso, subtraído
quando nenhum copo te sacia ou te acalma o juízo.

 As dores e os tremores desta guerra suicida,
a qual alberguei na alma, sem nenhuma saída,
não compartilha palavras, mas contém charadas
que se camuflam nas interseções dos mapas,

como a dizer-me ─ no dialeto das encruzilhadas ─
por meio dos uivos dos ventos e do gelo das nevascas,
para que eu quebre os meus espelhos em pedaços
e imerso no sangue jorrado e refletido nos cacos

eu, possa, enfim, confessar vencido, sereno e resignado
que o poema não existe mas está em todos os espaços
e quando o poeta segue com perseverança o seu rastro,
repete a sua única verdade nesse mar salgado de estilhaços:

“Na bissetriz onde não o assisto, mas somente ao cansaço,
é ali mesmo que, pobre diabo, eu me ressuscito e me acho.”

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Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com