Ai de mim se não fosse poeta,
alcunha um dia rejeitada veemente
e que até hoje insiste estridente
no pavor de não honrar a tarefa,
pois não há êxito nesta busca que é aberta
e sem ponto conclusivo, missão que não oferta
epílogos, já que sempre estará incompleta,
cheia das lacunas que nem Deus as encerram.
Ai de mim se não fosse poeta,
este escriba sócio do infinito,
sabedor da carcoma que o injeta
na penumbra do verso aflito,
que ao mesmo tempo em que o tortura
nesta sua derrota que é pré-determinada
― a dimensão úmida do breu da clausura ―
o salva da falácia do fim e do fedor da sua vala.
Ai de mim se não fosse poeta,
este escravo que detém o alerta
que arde agudíssimo e decreta:
― Alforria as rodinhas da sua bicicleta.
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