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domingo, 29 de novembro de 2009

DESAFIO

Escrever diretamente na tela
do Desmaio alguns versos,
juntar as peças estilhaçadas
em pó, em punhal, em navalhas

que me cortam a carne suada,
fria, pálida, só, frêmita e tatuada
pelo nanquim que não encontrou
a sua casa: o poema o derrotou.

O poeta não crê em nenhuma verdade;
exceto a do poema: uma vela na claridade.

ESCONDERIJOS

Cansei de gritar
por ti em mudas janelas.

Cansei de sonhar
a ver-te nua sem querelas.

Cansei de respirar
teu ar pelas tabelas.

Cansei de naufragar
a navegar-te pelas quimeras.

Cansei de imaginar
como seria a nossa guerra:

eu um todo exército pontiagudo
que derrotaria os mil nãos do teu escudo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

SEM TÍTULO

Assim que te vi pela primeira vez
as imagens que guardo e carrego,
os atalhos por onde trafego,
os pelos esmos dessa minha tez
e meus olhos zonzos e perplexos
aprenderam por meio da mudez:
cale o corpo — é da alma o alfabeto;
e do vento o sopro da insensatez.
Naquele dia um estranhamento
voraz tomou posse do pensamento
quando tudo perdeu o sentido
(ilusão de se poder ter o infinito).
Fizeste do belo um escravo
da tua tensa mescla: fada e pecado.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ENTRE NÓS

Não deixemos desatar os nós de nós

dois; não afrouxemos os laços

erguidos em agridoces bordados

de dores distintas que se fecharam sócias

e ligadas livremente pelos polos

que antes as mantinham afastadas

quando, escurecidas, ignoravam

o mútuo desejo que une os opostos.

Não entreguemos o segredo do cofre

à ânsia nefasta da harpia

camuflada nas penumbras do dia

e na inveja que transborda de seu copo:

guardemos dentro da gente, alados,

este amor que nos fez abalroados.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NOVOS ARES

Desde quando meus olhos te fitaram
uma mágica neles se instalou
o que era ocaso virou alvorada
e toda a ferida cicatrizou.
Desde quando meus olhos te abordaram
um imenso sol no meu céu se abriu
o que era soluço virou gargalhada
e a tristeza, de mala e cuia, partiu.
Desde quando meus olhos te furtaram
um outro mundo em mim se formou
o que era córrego virou praia
e todo o sal do universo me temperou.
Desde quando teu abraço me envolveu
fiz de mim mesmo o meu próprio apogeu.

Marlos Degani

Minha foto
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com