Páginas

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

EPÍLOGOS


Sou um poço de vícios,
uma luz apagada,
um estranho no ninho
que a lucidez bate
com cinta de espinhos
até quando a tarde
reza pelo epílogo
do ocaso da carne.

Sou a sobra do dia,
o que, na madrugada,
se desenha sob trilhas,
esgotamento, fábulas
e inúteis bravatas
que, diante do crivo
do sol, viram fumaça...
Insistente destino.

Sou um rio sem leito,
esmo, sem correntezas,
sem quilhas, sem estrelas,
onde não há desejo,
senão o de dar fim
à vida que, em mim,

foi feito o poema:

só a dor os algema.

sábado, 20 de outubro de 2012

PALAVRA


Minha palavra não basta;
palavra: poeira rala,
palavra que fala
em mudez alta.

Quero a palavra
que liberte a calma
do corpo e da alma.
Qual a palavra?

Bolsa? Bússola? Navalha?
Qual será a palavra?

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MERGULHO


Morrer é muito pouco
não mata esta sede,
não preenche os ocos
por dentro das paredes
duras e dum concreto
espesso, indelével
feito de pedra, trago,
seringa e tabaco.
Escrevo e não acho
o que tanto procuro
e sei que o fracasso
cobre o meu futuro
− dízima periódica
e todos os seus números
que geram novos códigos
deste mundo inútil.
Minha dor é vampira,
se morre, ressuscita,
se sangra, cicatriza,
se morde, contamina
as entranhas da vida
e treme o meu verso,
sua o meu caderno,
molha a minha trilha.
Tem cor o meu abismo:
o breu do infinito.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

AGORA


Rubra é a aposta que colore
meus pensamentos que, ultimamente,
exploram uma única hipótese:
amar-te já; imediatamente,

músculo a músculo, ai a ai,
colo a colo, sêmen à semente,
pois quando dois urgem o mesmo brado
algemam o tempo; só há presente.

É lívida a cor da minha face.
É metal este desejo que nasce.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

ALVA − Alvo −


O teu sorriso é feito um guia,
um farol, um imã para a minha
quilha, um delicado astrolábio,
uma estrela sedenta, um arco

de carnes trêmulas, portão da língua
que quero mais do que a cocaína,
mais do que o fumo do meu cigarro,
mais do que o alto grau do meu trago.

O teu sorriso é o passaporte
para a terra dos gemidos fortes,
onde o tempo não passa dum tempo
e a morte, dum orgasmo intenso.

O teu sorriso agridoce brilha,
vela no breu: o sol do meio-dia.

Marlos Degani

Minha foto
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com