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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

BREVE



O meu próximo poema não mora
comigo. Não me habita ainda.
Sei, tão só, que fiz dele meu herói
e é bem-vindo quando sua brisa
acosta o batente da janela
que, por ele, sempre está aberta.
E se vem é de um jeito somente:
uma lufada breve, mas fremente,
e treme e deixa bem avisado
ao poeta de mil versos versados
− Sou um pé de vento de um poema
e não há quem tenha uma algema
capaz. Como prender o infinito?
Se ele disse assim, está dito.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

BRISA BRUTA


 “Eu preparo uma canção
 que faça acordar os homens
 e adormecer as crianças.”
                                                                          CDA, em Canção Amiga.
  
Queria escrever uma canção,
uma letra que virasse canção,
mas nunca pude e não poderei.
Se sei o motivo desta barreira?
Desconfio: o verso que é lido
da mesma forma pode ser ouvido
da música oculta do poema,
uma que a alma todinha treme
no frescor de um silêncio urgente
e amplo, feito se todo o mundo
parasse com o mundo. E com tudo
que não fosse este tom dissidente.
Só posso buscar uma melodia
dentro do poema: a poesia.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

CRISTALINA



Sempre te via em bissextas noites
proibidas, sentada (e divina)
naquela mesa posta na cozinha
da casa lotada de gente doida,
de madrugadas que amanheciam
movidas pelas garrafas vazias
entre as poeiras da agonia
e a densa nuvem de nicotina.
Sempre te via muito feminina,
e mais: feito uma rara rainha
de gestos delicados que enchiam
o meu caos, de completa poesia.
Sempre te sentia em alguns sonhos.
E o meu despertar era risonho.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

CONTRAMÃOS



Não vem desta tela em branco
o enjoo que me sufoca,
mudo, de dentro para fora,
qual uma represa de pranto;
vem da lucidez do instante
mareado em que notamos,
nos muitos fracassos do homem,
a sua opção pelos ontens
trancafiados no depósito
silencioso e escuro
− o todo que virou absurdo
nas nuvens do contraditório.
E quem se perde neste mundo
vende seus nadas como tudo.


Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com