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terça-feira, 21 de outubro de 2014

SÚPLICAS



Que meu pai não me sopre nenhum verso,

nunca soprou, só se não dei ouvidos,

nunca dei, mas só depois de ter ido,

foi preciso assim, sem decibel,

para que o meu tímpano estúpido

começasse, enfim, a decifrar

o dialeto que ele usava

− aquele estranho silêncio púrpuro.

Que meu pai não me veja deste jeito,

lacerado, todo, lado a lado,

por uma inapelável saudade

que desfaz o que já está desfeito.

E é a voz do meu pai que revela:

não sirvo para nada. Sou poeta.
 
 
 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

OFF



E nessas trilhas do poema

quando flutuo só, a esmo

(vou da carne ao esqueleto

e da denúncia à sentença),

 

imerso neste seu esquema

de não ter nem fim nem começo;

blefo a fé no tabuleiro

e engaveto a celeuma.

 

Não. Não há luz no cativeiro:

o poema não tem novelo.
 
 
 

Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com