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sexta-feira, 1 de maio de 2009

DO PÓ AO POEMA

Sobre Soneto I.114 de Bruno Tolentino em “A imitação do amanhecer”.



Se cruzei os quase quarenta e as seis
sugando montes atrás de montes; se me seguro
só ao canudo úmido e escuro
como Teseu ao novelo; se me albergo de vez
na camuflagem do poema, ao sabor da tez,
e ainda sim o persigo trepado no alto do muro
e faço dele o alvo, ou o meu salário do mês;
se largo tudo enfim e borro a tinta num urro
entre o cansaço, o pó e a maquete perdida,
será talvez por isso mesmo: porque creio
que nada vai passar, pois que o verso é armadilha,
e se não consegue abrir o amém ao meio,
não há de salvar-me! O poema... Essa trilha
fantasma que me sangra: uma adaga no meu peito.

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Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com