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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ABSTRAÇÕES

Vejo formas de rostos nas paredes descascadas,

nas falhas dos chapiscos de muros incompletos,

nos vestígios furta-cores das demãos do passado

e na sujeira da vida impressa na tinta asséptica.


Ouço vozes e desconheço de onde elas partem

e nem sei se de fato partem; se estas ocas audições

(que se tornam tensas diante destes misteriosos apartes)

são recados imaginados ou gemidos dos meus porões.


Degusto o vento; quero-o, anseio-o a cada intervalo,

seja feito brisa morna que amacia a cama do dia,

seja feito lâmina gélida que deita a saudade e fatia

o abismo em degraus e a morte em desejo adiado.


Exalam invasoras ao redor das minhas narinas

o chorume e a fragrância bandida das esquinas,

uma a uma, olor a olor, nota crua a crua nota

que passam ligeiras, enquanto a alma se transporta.


Pego o verso somente quando o caço feito a um rato

e ele morde, me lança em chamas, não quer ser escravo

e concreto armado de fogo natimorto: algo fracassado

que já partiu no ocaso, mas deixou seu anzol armado.


O poeta tem inexatos treze pedaços soltos na curva:

cinco sentidos, sete pecados e um poema em fuga.

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Marlos Degani

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Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. É jornalista, escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou de seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Lançou em set/14 seu segundo volume de poemas chamado INTERNADO no formato e-book, já disponível nas melhores virtuais. Contato: marlosdegani@gmail.com