Páginas

sábado, 10 de dezembro de 2011

CINZAS

O meu mundo sem você é o circo
onde o insone palhaço pediu licença,
pois desde a sua partida
fria e intensa,
ele
procura e não acha nenhum sorriso,

feito navegar num rio que perdeu seu leito,
feito o sol que cabulou o dia e não nasceu
e fez perdurar a noite nos breus dos becos
para velar a minha vida que sem você morreu.

MILAGRE

Queria poder tomar emprestado o teu olhar,
este teu sentido amplo que consegue enxergar
as minhas sombras escondidas, os mil becos
senhorios dos meus medos, os frágeis enredos

de uma mesma história contada ― e fracassada
no lastro de arquiteturas em margens de praia,
do castelo ali construído que somente se depara
frente à rápida espuma da próxima ressaca.

Queria poder tomar emprestado o teu olhar,
este do modo seletivo, um filtro que decanta
vagarosa e sabiamente meu lago, meu mar
e o vento que sopra na minha vela que se levanta

qual fosse uma bandeira esculpida em puro titânio,
forte, rígida, indelével, um imponente manto:
o motor da minha nau e o colo do meu pranto
que perambulam perdidos no breu dos oceanos.

O poeta teimoso insiste na trama e sempre sonha
o sonho de mil quilates, de mil potes que nunca se realiza:
mas é do soluço molhado e sussurrado na minha fronha
que o teu olhar se traduz neste milagre que me ressuscita.

30 CONCRETOS

As horas velozes
daquelas madrugadas
(secretas e bandidas,

recheadamplas dos tremores
de mãos completamente asas
e dos desejos sem palavras),

não acenderam a necessária dinamite
que implodiria este espessíssimo muro:
vil masmorra do nosso amordaçado urro.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

HORIZONTE

A distância é a arma
que disparo em pranto
nos alvos da minha alma
coberta pelo teu manto

que me entorpece quente
que me encharca as ilhargas
onde o teu corpo ausente
é uma imagem que se espalha

nos flancos deste quarto
escuro, no vazio da cama
que te desenha em chamas
que te grita pelos espaços.

Teu beijo é toda a quimera
da minha boca que te espera.

CLANDESTINOS

Notei sem querer um longo fio do seu cabelo
camuflado numa dessas selvas do meu peito;
trêmulo, o alojei entre os bordos dos meus dedos
e enquanto, feito um enredo, se desfazia o novelo,

seus nós se prenderam em mim como se meus pelos
fossem o antídoto que curasse todos os seus medos,
que guardassem em extrema segurança os segredos
que choramos e cheiramos juntos no seu travesseiro.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SEDE

Não há mais nada em mim
além deste corpo grande
que se perdeu dos seus sins
e do próximo instante.

Sou aquele condenado
mais outro que foi julgado
no tribunal da saudade
que, sem você, me invade.

Só você me ressuscita:
me dê um gole de vida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

RECIFE

Ventos e sorrisos
ventos e ventos
na lapada do dia
esquinas de sal
de mar infinito
Recife um dia volto
me agarre, não me solto
do teu agridoce cheiro
de coisa boa, de tempero
do sertão e da cidade
ah, Recife me mate
ou me livre desta saudade...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

MAIS ALÉM

Quando se ama mais do que se pode,
quando as palavras se esfacelam
do alto de um arrepio forte,
a dor, com outras dores, se reveza

nesta rara junção de calafrios
que trava o corpo e o espírito
imersos na neblina dum abismo
sem nem mesmo saber: morto ou vivo?

Assim, quando o amor vira chaga,
somente o tempo é que apaga
as marcas do ruidoso chicote
e liberta a carne de seus cortes.

Por que é mais, é chaga, é doído?
Porque ultrapassa o infinito.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

PARALELAS


Amo as paralelas
mas como serão elas?
Ali há um amor
que dispensa a dor

das carnes que se acham
nas redes, nas jangadas
da vida que balança
e singra esperanças.

Ali há um amor
que singelo trocou
a futura saudade
pela eternidade.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SEGREDO


Houve entre nós um nó bem atado
quando o universo se vestia
nu e todo o seu tudo cabia
no solo do nosso leito molhado

na sudorese de corpos soldados,
ferro e fogo, beijos e mordidas,
mil onomatopéias e sopapos
─ duas rubras carnes intumescidas.

Houve entre nós um veloz estado
de entrega, tenso, descontrolado,
que no futuro ultrapassaria
os limites, as almas, as medidas...

Houve entre nós um tempero novo:
o ar de um era o ar do outro.

sábado, 20 de agosto de 2011

GORJEIOS XV


Tente emergir das profundezas do umbigo: desconecte-se do cordão que o une a si mesmo; livre-se de você; expulse-se; jubile-se; reinicie-se.


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS XIV


Quando os dias não têm mais nenhum repertório e as horas são sempre as mesmas horas monocórdicas que só tocam uma canção: saudade, saudade..


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS XIII


O sofrimento é diretamente proporcional à falta de ponderação de cada um. E vice-versa. Harmonizar é sempre a melhor opção: livrar-se do eu.


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS XII

Resista às sombras dos egoísmos alheios que tentam contê-lo no beco. Tenha o amor sempre por perto. Ele venta a alfaia e deixa o sol entrar.


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS XI


A madrugada foi de frio e saudades. De choros e travesseiros ao alto. De medos e sussurros. De cães ladrando ao longe. De insônia de você...

* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

terça-feira, 7 de junho de 2011

NUVENS



Há aqui dentro, solto na prisão
do corpo, um verso poderoso
que roça o nanquim puro, viscoso
e o suor – mar que mina da mão −

encharca o papel e a palavra,
esta arquitetura do nada,
este labirinto de esqueletos,
este breu, este vulto dos becos.

Enfim, o que será que nos reserva
todo o mistério do poeta?
Seria o de Deus e o poema
e suas mesmas origens supremas?

Ou será que apenas seria
seus hábeis truques de ventriloquia?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

CICLOS

Não é saudade e sim comoção,
não é febre e sim sudorese,
não é vontade e sim convulsão,
não é reza e sim catequese,

não é brecha e sim imensidão,
não é inverno e sim iceberg,
não é eco e sim repetição,
não é berro e sim exegese.

A tua ausência é uma morte
viva, espalhada nos cemitérios
do meu corpo, em infinitas covas
onde me afundo e me enterro.

Recebo a penitência mais alta:
renascer e sentir a tua falta.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

NADA

Sou feito da inexata hora
em que o dia, prenhe de aurora,
destranca as portas do horizonte
e livra de vez o hoje do ontem

que parte, mas deixa o seu espólio
rico de esqueletos vaidosos,
nesta arquitetura diabólica
que te prende ao fingir que te solta

nos campos (de areia movediça)
da miragem colorida do verso,
do cheque sem fundos da poesia
e do poema no meio do brejo.

Sou feito do inexato nada
que o dia pinta de alvorada.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

AMPLO

O poema não abriga o verso
nem nada; somente uma tarefa:
inexistir na boca do poeta
que o pretende com cela e rédea,

sem saber do mundo que trafega
sobre o desfiladeiro finito
do abismo frio do seu umbigo
onde o grito não reverbera.

Cru e simplesmente inexeqüível
o poema despe-se impossível
àqueles que não o entendem livre
— antítese cabal dos limites.

Não precisa haver luz na caverna:
o que não se vê, não se encarcera.

sábado, 22 de janeiro de 2011

CILADAS

    I                 I

A ingratidão é carta
na manga, fora do baralho,
da qual lança mão o covarde
que fere porque não sabe

da solidariedade
e não pode crer na bondade:
ainda não foi liberado
do leito do próprio parto.

A dor aguarda o ingrato:
pé a pé, calo a calo.

         II

A avareza trafega
nas paredes do abismo
escuro do egoísmo
e, amarga, reverbera

o tilintar das moedas
conjuradas feito rezas:
mãos fechadas que significam
os nãos rotundos à vida.

O avaro e seus cobres
morrem no frio de seus cofres.

        III

A ignorância é cega
e (surda e muda) acéfala
e não sabe nunca de nada,
se ocaso ou alvorada,

se início ou chegada;
vive no breu sem bengala,
sem tato e não discerne
o delírio da febre.

É a tirana das chagas
e dela poucos escapam.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

EXÍLIO


As algazarras da vida
(de fartas algaravias)
semearam três armadilhas
nos miolos ocos das vísceras:


ingratidão, avareza
e as pálpebras cirzidas
da ignorância - bandida -
algoz da luz e da beleza.


Resta então ao poema
o éter da inexistência.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CARTA ABERTA


Oi amigos e amigas

Parei de reclamar da subida

Dois mil e dez já está sem pilha

Foi feito a vida

Acerto e armadilha

Ocaso e alvorada

Bom dois mil e onze

Nem ouro nem prata

Pra mim tá bom o bronze.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AFINS

E foram beijos mais do que beijos;
romperam as fronteiras das línguas
─ que serpentearam intumescidas
nos céus de um só céu de desejos,

raro superlativo de querência:
um a faca o outro o queijo,
um a fome o outro prato feito,
um o sim o outro indecência.

E foram movimentos sem tempo;
ali conviveram tensão e calma
somados ao doce estranhamento
do corpo mais leve do que a alma.

E foram amplos tudos indigentes;
chamas cheias de suor carburente.

domingo, 12 de dezembro de 2010

VULTOS

Vejo vultos
no escuro
vejo vultos
todos mudos
serão surdos?

Vejo vultos
são absurdos
vejo vultos
não são muitos
têm intuitos?

Vejo vultos?

LUCIDEZ

A lucidez é um fantasma
que, insolente, te ataca,
te segura e desloca
o ocaso à aurora;       

remove o breu das capas,
do Mephisto a maquiagem,
do verso a existência
e do poeta o poema.

A lucidez é vantagem
volátil, desvantajosa:
sua mó tritura as máscaras,
mas também sem dó te isola

no adro negro da razão
onde toda a emoção
agora é água passada
sob a ponte do nada.

A lucidez é um fantasma.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MEDO

Sim: tenho medo,
um falso receio,
um inquieto
calor discreto

que coze entranhas,
que frita o sono
imerso nas banhas
do abandono.

Meu grito é cego,
só, boquiaberto,
lodo no rochedo.
Sim: tenho medo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

TERZINAS PARA UM GRANDE AMOR - CANTO I

Posso me esfregar nas coxas da madrugada,
espalhar risos fáceis, ladrar feito um cão,
mas é somente sob a luz deste teu olhar

que o dia nasce e não há constelação
em lugar algum, nem nos confins do universo,
que brilhe mais e me tire da escuridão.

Posso me enganar nas armadilhas do verso,
sofrer sozinho e encharcar o teclado,
mas é somente no poema do teu amplexo

que reúno em êxtase os meus estilhaços
onde ninguém mais poderia reconstruir
esta alma hemorrágica e em pedaços.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

INSÔNIA EM ONZE PARTES



RASTRO

O pavio
do amor:
o gemido.


ASAS

O vento
do amor:
o beijo.


ALGOZ

O inimigo
do amor:
o umbigo.


REJEITO

O chorume
do amor:
o ciúme.


REINÍCIO

O caos
do amor:
o orgasmo.


NAUFRÁGIO

A tortura
do amor:
a disputa.


LASTRO

A fortaleza
do amor:
a incerteza.


ALMA

O coração
do amor:
a ilusão.


CHOQUE

O raio
do amor:
o atalho.


CURTA

A falácia
do falso:
a facilidade.


GÊNESE

A origem
do amor:
a vertigem.


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

QUEM SABE

Quem sabe se você decidisse
que este nosso amor fluísse
livre de tantos porquês escondidos
e mais na direção do infinito?

Quem sabe se você concordasse
que apenas hoje nos importa
que o amanhã não abriu a porta
e não pode invadir esta tarde?

Quem sabe a solução da charada
seja só vivermos e mais nada?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DESPEDAÇADO

Ah se você pudesse
por um único segundo
saber dos cortes profundos
─ tua falta é febre ─

que os gumes do mundo
tatuam na minha pele
(e que servirão aos vermes
num banquete do futuro)!

Viver será preciso
sem o mel do seu visgo?

sábado, 18 de setembro de 2010

INCOMPLETO

Houve um pomar de amor
que nasceu e se espalhou
por entre os sulcos e veios
do solo do nosso leito,

este onde hospedamos
o infinito num pranto
abduzido que eclodia
da fonte da utopia.

Longe de ti o sol é fosco,
há nuncas: o muito é pouco.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ECOS DO ONTEM

De que jeito arranco este ontem
de mim, droga que seduz e corrompe
a aurora ─ e pretende reinar
sobre as tuas horas e teu ar,

que fecha a porta e a janela,
o tirano enxuto que governa
as terras erosivas da inveja
e o estrago que ela carrega?

De que jeito deleto este eco
(tudo que penso e quase me cega)
intenso, e nos ossos reverbera

diante da razão que me renega
quando de novo e de novo peco
na lembrança que em si desespera?

(com Jorge Cardozo)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ACUADO

A madrugada retém meus gemidos
entre sinistros becos revestidos
do breu silencioso, do pecado
que o dia tornará encerrado.

Nada mais me resta nesta terra
(de pouco eu te amo, de inveja),
e nem mais do poema tenho medo:
ele não virá nem tarde nem cedo.

Doo esses meus minutos vazios
às nuvens infinitas, ao matiz
furta-cor que o sol equilibra
na força que vem da ventania.

Noite vem; alugo o pesadelo
mas não escapo do seu enredo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

E


E beijaria toda tua coluna macia
e em cada vértebra e osso a osso
e morderia, amplo, dorso a dorso
e em cada curva, chuva de alegria

e poder ouvir este teu uivo agudo
a exigir mais e mais e mais e tudo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

GORJEIOS XI

Tente emergir das profundezas do umbigo: desconecte-se do cordão que o une a si mesmo; livre-se de você; expulse-se; jubile-se; reinicie-se.


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

PARA AMAR

Quanto mais se ama menos se pode
conter o magma que se irrompe
de dentro dos teus segredos, do cofre
sepultado no além do longe,

na cova rasa do teu egoísmo
a exalar este nauseoso
chorume do verso carcomido
e que torna o ar fuliginoso.

Quanto mais se ama mais se deve
navegar nos leitos de teus rios
saber quem é veia que te serve
quando tudo parece vazio.

Quanto mais se ama mais se afia
o gume da garra da harpia.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

DESMEDIDO

Este amor

inquieto

nunca se pôs

arquiteto



planta baixa

indeciso

linha parca

impreciso



este nanquim

derramado:

nega o fim

e o pecado



tinta fresca

de orgasmo.



(com Vinicius Silva)

domingo, 8 de agosto de 2010

ESPÓLIO

O que resta ao poeta
além da resignação
de saber que a sua meta
não passa duma ilusão

(pois o poema é cavalo
selvagem; faz da comitiva
do verso, alvo suicida
neste pântano do fracasso)?

O que resta ao poeta?
Uma rara percepção
do poema − uma prisão
que ao mesmo tempo liberta?

O poema não aparece;
nem se Ele fizer a prece.

ISCA

Nada acaba:

fim é fantasma

que todos propalam

mas ninguém resvala;

nada acaba:

fim é cilada

é cão que não ladra

mas que tem raiva

e vil te crava

no auge da fala

da falácia:

o fim é vala.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

OCULTO

Busco o verso voluptuoso

que alforrie toda a imagem

que inunde o que houver de oco

e faça poesia desta tarde.


Busco o verso exasperado

que seja bailarino, mas exato,

que avance além da página

e permita o poema em lágrima.


Busco o verso multifacetado

que expanda todos os sentidos

que dispense os astrolábios

e colha estrelas do infinito.


Busco o que não pode ser achado

pelo poeta, Deus ou o Diabo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

GORJEIOS X


O hoje de hoje é mais hoje do que o hoje de ontem. O ontem de ontem, continua sendo o ontem do hoje. Legal é nada saber do amanhã do amanhã.


* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS IX

Ando impaciente por demais. Com tudo, com todos. Ai de quem me ama. Mas sou teimoso por demais também. Não valho a pena, mas insisto em mim.



* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS VIII

Tenho dificuldades em me despedir. De tudo. Das pessoas, de um disco, de um livro. De um dia esmo. Eu só consigo é me despedir de mim mesmo.



* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS VII

Nunca gostei de saber da vida de ninguém. O que é importante e significativo chega até você. Espontaneamente. Não gosto nem de saber de mim.



* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS VI

Nunca se pretenda muito. Desgarre-se de você mesmo. Corte o cordão que o une a seu umbigo. Observe de um outro ângulo; pratique a humildade.



* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS V

Eu mesmo me explico quando me complico e me ajoelho nos meus milhos. E visto as minhas preces nuas e ouço os ecos dos meus próprios gritos.



* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani


GORJEIOS IV

O som é uma concessão do silêncio; o gozo, da harmonia; o sonho, da liberdade; o pódio, da disciplina; a morte, da vida e o amor, da utopia.




* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS II

A vida trafega quando, infinita, se desencontra; o fim é um inútil inerte, celeuma. O poema não possui o verso e nem o verso possui o poema.




* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS III

Não há nenhum sonho ou fervorosa prece quando a teimosa saudade é quem velocíssima te amanhece e a manhã que nasce mais parece que anoitece.




* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

GORJEIOS

Há vezes que o verso não sai. Muitas vezes. Zanza dentro de você. Atazana as vísceras. Pula. Corcoveia. Dono da farra que não mostra a cara.




* Nota do Autor: GORJEIOS é uma série inspirada no modo de publicação que existe no sítio do TWITTER, cujos TWEETS (mensagens de até no máximo 140 caracteres) são sinônimos, em Língua Portuguesa, de gorjeio, chilrear, pipilar, entre outros sons de pássaros. O poeta posta reflexões soltas, passarinheiras, sem maiores pretensões e que possuem, irrevogavelmente, exatos 140 caracteres. Siga o poeta no TWITTER: @MarlosDegani

domingo, 25 de julho de 2010

MAREMOTOS

Ter esta coragem: a de dar as asas
para quem a macia quentura é o ar
que se tem de, sufocado, respirar
meio às frestas de infinitas casas

de um corpo mais do que um corpo
a doar mil gozos para os meus gozos
de uma alma mais do que uma alma
a diluir entre méis o caos em calma

− antônimo radical do que seja descanso
mas, e sim, de certa vagarosidade acesa
íntima de mil atalhos dos flancos insanos
que velozes rebentam a brasa em labareda.

O amor passeia na chuva e não crê no pranto
pois o egoísmo, o único inimigo, já é oceano.

terça-feira, 13 de julho de 2010

NAUFRAGADO

Emergir de suas profundezas,
tentar sobreviver até à tona,
resistir à pressão de sua sombra
que faz fim de sua parca nobreza

e espalha o olor da sujeira
que você cobriu de covardia,
de armadilha em armadilha,
de avareza em avareza.

Poemas são superfícies falsas,
o ar do verso é mentiroso
e o poeta morre afogado
sem ninguém que vele o seu corpo.

Emergir de dentro de você mesmo
é desnascer além do seu sesmo.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ANÁLOGOS

Há mil encantos nas nuvens contra o sol
e todos os matizes infinitos de sua paleta:
brancos, ocres, roxos, carmins e magentas
- ocaso furta-cor que sucumbe à noite veloz.

Há mil encantos nos balés dos oceanos
e todos os matizes infinitos de sua paleta:
verdes, pretos, berinjelas e azuis de veneta
que corto com a afiada quilha do meu pranto.

Há mil encantos no poema e até Deus duvida
que é feito a vida: parece, mas nunca foi finita.

MORTO

A solidão me serve um fel amargoso,
este que, dos féis, é o mais poderoso,
pois não há nada mais triste e absorto
(tua ausência que me dói dorso a dorso)

do que o cinza severo a tingir o dia e o choro,
maior do que o mar ─ e que conclui o corpo
sem ladainha nem vela nem reza nem coro:
somente eu posso e ouço o meu grito silencioso.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

RESGATE

O tempo virou batalha
contra essas chibatadas
que a tua ausência
me crava quando alimenta

a minha dor em carne viva
(bem junto da alma aflita)
e me prende num labirinto
sem novelo e sem arbítrio.

Só a tua luz aberta
me ascende das cavernas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ENCANTADA

Ainda não pude te ver de perto,
mas em sonhos e versos enxergo
as tuas curvas exuberantes
e teu beijo - concerto do instante -

é foz e nascente dum mel selvagem
que descerra anseios e vontades,
que acha no breu uma nova fresta
por onde a vida se manifesta.

A pá do poema junta meus restos
que te procuram cegos e sedentos
num mar negro - sem fundo e espesso -
do naquim borrado no palimpsesto.

Te amar é recolher encantos
no sal do teu riso e do teu pranto.

Marlos Degani

Minha foto
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.