domingo, 29 de novembro de 2009
DESAFIO
do Desmaio alguns versos,
juntar as peças estilhaçadas
em pó, em punhal, em navalhas
que me cortam a carne suada,
fria, pálida, só, frêmita e tatuada
pelo nanquim que não encontrou
a sua casa: o poema o derrotou.
O poeta não crê em nenhuma verdade;
exceto a do poema: uma vela na claridade.
ESCONDERIJOS
por ti em mudas janelas.
Cansei de sonhar
a ver-te nua sem querelas.
Cansei de respirar
teu ar pelas tabelas.
Cansei de naufragar
a navegar-te pelas quimeras.
Cansei de imaginar
como seria a nossa guerra:
eu um todo exército pontiagudo
que derrotaria os mil nãos do teu escudo.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
SEM TÍTULO
as imagens que guardo e carrego,
os atalhos por onde trafego,
os pelos esmos dessa minha tez
e meus olhos zonzos e perplexos
aprenderam por meio da mudez:
cale o corpo — é da alma o alfabeto;
e do vento o sopro da insensatez.
Naquele dia um estranhamento
voraz tomou posse do pensamento
quando tudo perdeu o sentido
(ilusão de se poder ter o infinito).
Fizeste do belo um escravo
da tua tensa mescla: fada e pecado.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
ENTRE NÓS
Não deixemos desatar os nós de nós
dois; não afrouxemos os laços
erguidos em agridoces bordados
de dores distintas que se fecharam sócias
e ligadas livremente pelos polos
que antes as mantinham afastadas
quando, escurecidas, ignoravam
o mútuo desejo que une os opostos.
Não entreguemos o segredo do cofre
à ânsia nefasta da harpia
camuflada nas penumbras do dia
e na inveja que transborda de seu copo:
guardemos dentro da gente, alados,
este amor que nos fez abalroados.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
NOVOS ARES
uma mágica neles se instalou
o que era ocaso virou alvorada
e toda a ferida cicatrizou.
Desde quando meus olhos te abordaram
um imenso sol no meu céu se abriu
o que era soluço virou gargalhada
e a tristeza, de mala e cuia, partiu.
Desde quando meus olhos te furtaram
um outro mundo em mim se formou
o que era córrego virou praia
e todo o sal do universo me temperou.
Desde quando teu abraço me envolveu
fiz de mim mesmo o meu próprio apogeu.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
SEM FIM
de mal-amada
desafia meus poros,
todos, um a um,
pêlo a pêlo.
Tua marquinha de praia,
teus seios pequenos,
teu tudo pequeno
se agiganta em mim
feito tua alvura de marfim.
Eu te poria de quatro,
de supetão morderia
tuas bundas, desceria aos pés,
mergulharia às ilhargas. Não pararia.
Te poria do avesso e te chamaria
de puta, de cachorrinha, enrolaria
meus dedos nos teus cabelos (te puxaria)
e, de perto, navegaria na tua língua
até o ar se extinguir em quero assim,
em venha aqui caralho, em goze em mim!
Depois do infinito, te acordaria
em lambidas na tua vagina, profundas,
passaria pela tua divisa, teu ânus
cor-de-rosa, fechadinho, e, frenético,
subiria para sugar todo o teu gozo inédito,
colheria teus urros, sangraria sobre
tuas unhas cravadas no meu dorso,
te chamaria de única, molharia teu lençol
arrumadinho, despertaria os vizinhos
atordoados, debruçados nesta manhã alvissareira.
Te roubaria uns beijos,
reiniciaria o que nunca foi fim;
roubaria outros beijos,
outros escondidos segredos
e te ressuscitaria, de novo, para mim.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
APRENDIZ
Eu sou um eu que quer ser ele mesmo
provar o sabor desse arbítrio
e o que há nele de doce, de infinito,
de amargo, de sonho e pesadelo;
ser este incompleto em erros e acertos
que não inveja a loa do outro, o ouro
a brilhar na retina, nem mergulha no poço
onde mora a fonte do pranto alheio.
Eu sou um eu que quer ser ele mesmo,
pois aqui nenhuma aula se cabula,
nenhuma lição, diurna ou noturna,
deixa de ser ministrada pelo tempo.
A vida que me some e me subtraia
no inexato gume da sua navalha.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
FÉ
mudar tua palavra
para mel de rainha
liberta e nunca escrava.
Como eu queria
destrancar as defesas
girar na tua poça tesa
beber garapa de poesia.
Como eu queria
as chaves do teu coração
abri-lo à ardorosa emoção
deste amor que me renuncia.
Como eu queria
na paz nossa moradia.
Ah, como eu queria!
SEM NOME
que emerge meio santa meio cigana
que aumenta as garras, o calor e a força
quando me adoço com o mel da tua boca
e alago todo o teu recato, toda a tua poça
onde nos transbordamos em longos gemidos
infinitos? Que obriga que a gente se contorça
nesta cama — território feito fosse o paraíso?
Como se chama esta erosão repentina
que abre tua fenda outrora escondida
que elimina tenente os nãos do vocabulário
quando me visto com o teu suor almiscarado
e trafego éter sobre teu corpo, teus cálices
onde nos derretemos em longas soldagens
ardentes? Que decreta o fim das miragens
neste antideserto — reino dos mil oásis?
Como se chama esta coisa sem nome
esta dor às avessas que nos consome?
sábado, 1 de agosto de 2009
LEVA
leva de vez enquanto eu choro
a vida que se esvai pelos poros
lentamente: assim eu me devoro
na imensidão do vazio que ocupa
a sua ausência ampla que desnuda
o peito, esta adaga forjada na tortura
de vê-la na luz, no breu e na penumbra.
Leva tudo. Leva também o nosso amor.
Cuida dele que eu cuido da minha dor.
domingo, 26 de julho de 2009
HIATO
E segredos guardados no peito
Todos têm pelo menos um cadeado
Que só é aberto nos confins da solidão
Todos têm vários desejos escondidos
Censurados no crivo da Dona Moral
Todos têm labirintos sem mapa
Onde a alma se perde aflita
Nunca pretendi decifrar ou entender
Tua avalanche de seguidos arrepios
Que sempre alvejou meus sentidos
Desde quando te avisto ao longe
E assim que recebo o teu abraço macio
O tempo pára feito uma lívida morte
Que permite a vida do eterno instante
Em que o teu coração bate por nós dois
E nascemos num só corpo teimoso e proibido
Neste sonho feito de segundos de infinito.
FELICIDADE
Uma banda que se eleva
ao passo que a outra metade
dentro de ti toda trafega
e inteira, cheia, desbrava
os dois lados da moeda
quando a coroa vira cara
e a cara um Pierrot às avessas?
O que é a felicidade?
Antídoto ou paliativo?
Mentira ou verdade?
Alma ou espírito
efêmero feito cigano
sobre nó e encruzilhada
que beija o riso e o pranto
nas tranças da madrugada?
O que é a felicidade?
Algo que queima e arde?
Algo que alivia e abre
as pálpebras da tarde
escarlate? Obra de arte
que esconde uma parte
de cruel perversidade
ou é puro o seu alarde?
O que é a felicidade?
É a razão que toda se evade
por um vento que te invade?
O que é a felicidade?
quinta-feira, 23 de julho de 2009
SIMULTÂNEOS
Enquanto ardo, atuo — mergulhado num oceano de cinzas maior do que o deserto.
Enquanto atuo, escrevo — desafiado por esta falta de fim que nos mantêm vivos
nesta troca acordada na solidão: ele se alimenta do meu cansaço e eu do seu infinito.
Enquanto amo, sangro — ferido pelos mil estilhaços poderosíssimos do ciúme.
Enquanto sangro, sofro — tingido por uma ampla camada do seu grosso betume.
Enquanto sofro, amo — extrema-ungido sem palavras (esta sua ausência afiada
que me enterra e remete ao vazio a alma aflita que clama por você e mais nada).
quinta-feira, 16 de julho de 2009
SEM NOME
a fundura do poço desta chaga
nem mesmo um grau superlativo
absoluto sintético, nenhum estilo,
nada de que se aproxime a gramática
e suas antipáticas e inevitáveis assepsias:
a palavra trepa; é o chorume da poesia,
mas não traduz o âmbar dessas lágrimas.
Não existe palavra que faça
o retrato falado desta carrasca
(nada mais que o nada se revelaria
— não há imagem na fotografia.)
torturadora, dona, devastador ingresso;
expõe num desfile a nudez das minhas dores
quando por meio de cada gemido confesso
o cinza dos dias: só você reina no reino das cores.
O poeta procura a palavra, esta que não ecoa ou convoca
a insensatez e o azeviche do ar que a sua ausência provoca.
domingo, 12 de julho de 2009
SEM VOCÊ
e invade senhorio os pedaços do dia;
transforma o que é segundo numa harpia
que me assombra, me acua e me devora
bicada a bicada, poro a poro, veia a veia
quando o corpo é lentamente carcomido
feito o cadáver pelos vermes escurecidos
ou a alma que no alto do inferno corcoveia.
Sem você ao alcance caio na teia da madrugada
que muitos compreendem luz, festiva e dilacerada
mas para a pena que usucarpe nos meus dedos roídos
representa a duríssima resposta: o poema é do infinito
e locador da seara que não se veste em nenhuma medida
pois é irmão maior do presente, vítima do mesmo apuro
de ter a sua inexistência negada pelo homem, esta teimosia
que ignora a sua órbita ubíqua entre o passado e o futuro.
Sem você nas cercanias um amplo anti-milagre é operado
feito se eu esfregasse no deserto uma lâmpada ao contrário
e dela surgisse o olor do enxofre e depois o próprio diabo
que realiza os meus pesadelos e assassina o que foi sonhado
nas noites em que seus braços mágicos inteiros me acoplavam
e cada pelo, um punhal que se acomodava nesta cela sem grades
onde éramos tão um e tão leves, tão entrelaçados e tão afeitos
e tudo o que um deu para o outro foi puro amor (quase perfeito).
Sem você como referência fico perdido, desconheço o sul, o norte
e a solidão sussurra meu último verso: a vida é pior do que a morte.
terça-feira, 7 de julho de 2009
MUDANÇA DE ESTAÇÃO
a maciez inconstante e tenra das nuvens:
ora fogos ora brasas ora colas ora éteres
ora cegas espátulas ora afiados gumes.
Tuas mãos generosas oferecem
uma longa viagem para o paraíso:
são donas do meu corpo, do meu juízo
e das ondas que me sobem e que me descem.
Tuas mãos completas promulgam
a paz, extinguem as armas e as guerras:
assinam em segredo o decreto que encerra
todas as dores que os homens divulgam.
Tuas mãos não são mãos apenas e sim aladas esferas
que me retiram do inverno e me pousam na primavera.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
AGONIA
do tudo que existia.
Vai bem morna a tarde
e só me resta uma parte.
Vai bem breu a noite:
tua ausência, meu açoite.
VISGO
a voz falsamente firme e precisa,
o martelo batido feito armadilha,
a negação dessa dor que me engessa,
se tudo que faço sem você se torna desfeito
e o seu “S” ainda mora no cordão do meu peito.
CONVERSA DE VERSO
são portas ora fechadas ora abertas,
signos soltos, promíscuos e libertinos,
espaço onde habitam os limites infinitos.
Trafego na vertente doentia do poeta,
faço as cartas, cacifo, distribuo o jogo,
arruíno com o pobre tolo pouco a pouco:
acendo o refletor e depois cobro a vela.
Venho da improvável e diabólica interseção
entre o egocentrismo absoluto e a ingratidão
— o umbigo que somente enxerga o que é seu
e as costas hasteadas feito bandeiras de adeus.
Não há remorso, arrependimento ou piedade
nas minhas hostes de falsíssimas promessas,
pois blefo com o poeta e juro uma verdade
mentirosa, mas é esta mesma que o interessa.
Sou o pastor da ilusão, o grão-mestre da miragem.
Servir para tudo e em todos é a minha camuflagem.
Brinco com as coisas mais perigosas dessa vida:
vaidade, orgulho, ego, frustração, estima e cobiça.
Guardo as mil chaves de um vasto paiol de maquiagens;
transformo perfídia em palmas e abóboras em carruagens.
Doso com precisão os pés do voo e no seu lugar mais alto
solto as máscaras sem ar e anuncio de supetão o assalto.
Ajo com o poeta da mesma forma que o álcool no alcoolista:
sorrateiro, despretensiosamente pretensioso, cruel e imperialista.
Apresento sabores inéditos e aparento ser um prazer submisso
enquanto a arrogância constrói as cercas do seu mundo finito.
Sou o verso. Porta-voz e estandarte daquilo que não existe:
vilíssimo veneno que não mata aquele que me entende livre.
domingo, 28 de junho de 2009
ENTRELINHAS
(era todo teu o universo)
um mel de mim jorrava
inexistia o errado e o certo
só a tua língua que me guiava
aos céus: esplendor de azul aberto.
Enquanto eu te ateava
(era todo teu o tudo)
uma solda se soldava
inexistia o relativo e o absoluto
só o teu gozo que me sonegava
o tempo: fim do passado e do futuro.
Enquanto eu te reanimava
(era todo teu o líquido)
um outro ser rebentava
inexistia o início e o epílogo
só o teu riso que me congelava
de suor: doce e lívido armistício.
Enquanto eu te habitava
nem o nada mais importava.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
AAB-E-HAYAAT
nela nunca houve apelos de linha de chegada
tampouco a nefasta ilusão da falácia que sustenta
ser mel e finita o fel e a dízima periódica do poema.
A vida que deixei de enxergar já não me aponta
o frescor da manhã e a adstringência das brisas
que renovavam a pesada maquiagem bisonha
(paliativo ungüento contra esta dor que não termina).
A vida que deixei de tatear já não me incendeia
os pelos deitados nem enruga mais o mamilo
adormecido que outrora se vestia intumescido
mas que agora somente a saudade manuseia.
A vida que deixei de perfumar já não me entorpece
as narinas quando avisto de supetão o jasmineiro
que impregnava exuberante o meu corpo inteiro
e catapultava obstinado o seu olor feito uma catequese.
A vida que deixei de escutar já não me desconcerta
a alma paralisada que estranha aquela sublimação
de sons, tons e tocatas quando todo o peso sai do chão
e cria poderoso o vento que descerra a alfaia encoberta.
A vida dessas vidas que deixei lá fora no sereno amontoada
respira no aparelho que ainda sonha e quer e ruge e te aguarda.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
ECOS DESTEMIDOS
da calçada que fizeste cama.
Coragem, fúria ou sandice,
aventura, ironia ou drama
que me puseram assombrado
pelos ecos dos teus sussurros
(silencioso solfejo reverberado
nos vazios do meu peito escuro).
Invadido pela força da tua capela
— insistente fantasma que eleva
a minha temperatura e revela
uma subversiva erupção interna
contida entre grossas algemas de gritos,
abafada em fronhas de versos falidos,
nas expelidas correntezas solitárias
que fingem te trazer e mais nada —,
passo, então, a me perguntar, perplexo:
será possível que todos os reflexos
da tua voz se alojem feito gemidos
feito se eu fosse por eles escolhido?
Será que tuas onomatopéias ungidas
ao sabor daquelas públicas lambidas
entre o teu cachorro e a tua vagina
pescaram o meu desejo feito uma isca?
Como, afinal, escapar deste cruel calor insano
se teu corpo e teus uivos são o que quero tanto?
domingo, 10 de maio de 2009
MEL & FEL
suicídio almiscarado,
um néctar qual fosse
a sobremesa do pecado
sorvido por deus e pelo diabo.
Tua ausência é poderosa ruína,
tortura aprisionada,
um breu que veloz assassina
o sol e irriga a pele orvalhada
que é só saudade, esta navalha.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
UTOPIA
eu não desista dessa vida
de procurar insano o rastro
do que sempre está camuflado
no meio do papel ou do teclado,
por detrás das máscaras dos homens,
nos becos, nos falsos horizontes,
fundido entre a alvorada e o ocaso?
Quem sabe talvez um dia
o poema decrete a anistia
e perdoe todas as cegas tentativas,
estanque o sangue das feridas,
desarme todas as armadilhas,
faça provas das pistas,
aborte a intenção suicida
dos soníferos e da nicotina?
Quem sabe talvez um dia
tudo o que eu diga seja só poesia?
TROVÕES
como se solidário fosse
às erupções desse meu agora
― o mesmo agora de ontem,
o de deserto em deserto,
o de lamento em lamento,
preso na forca dos versos
contaminados pelo momento.
Será ele então que estremece
os vidros molhados das janelas
ou serão as folhas velhas e amarelas
do meu inverno ― e ninguém me aquece ―
povoado de poemas qual fossem esqueletos
que sussurram trincados por uma catequese
veloz que os libertem deste escuro desassossego
na improvável mágica do milagre e da prece?
Um trovão urra lá fora neste eco onde me escoro.
Será ele eu mesmo que me desisto e me devoro?
PERÍMETROS
(nesta caçada pantanosa, espessa, sem medalha e sem vantagem
já que o alvo é inatingível, holográfico, uma ardilosíssima miragem
nômade, efêmera, insistente: algo desprovido de fim ou de começo
e que advoga veemente sobre a exeqüibilidade desta tese que o eleva
para uma dimensão ignorada pelos poetas, onde não há o que se encerra).
Por que resistir contra a força dessa garra que te prende na veia da floresta,
quando é a mesma e única que te resgata do poço e que depois te liberta?
Por que fixar cercas e limitar a lonjura da pena à fundura do umbigo,
se podemos mergulhar na via impossível do verso largo e de seu infinito?
LIMITES
não é a asa-delta silenciosa que me eleva
às doces paisagens dos postais, dos contextos
epidérmicos de belezas efêmeras que trafegam
na boca de risos e na pena do felicíssimo poeta
que descobriu poder desfilar seus estandartes
pois crê possuir a rédea do verso e que projeta
soberanos galopes repletos das suas verdades.
O verso que xingo e adulo, amasso e passo,
não é a moeda corrente que compra uma dor
(ou um deslumbramento fortuito do acaso)
para de vez enterrá-la neste seu alegórico labor
sem suor, refletido sob luzes de pouca bateria
de um palco pretensioso dos aplausos camaradas
e dos elogios que inflam a bolha desta jornada
quando transforma o umbigo em formidável poesia.
O verso que trago e rechaço, cheiro e escarro,
não é a droga proibida que, rainha, me absolve
da realidade, do fato ou que eufórica remove
a pedra do caminho, o pus, e forja um atalho
milagroso, este que não abrevia a erosão das fendas
abertas e sem pontes, onde aquele pulo não pode
evitar o olor sulfuroso, ácido e cortante do poema
— um cão raivoso inexistente, mas que morde forte.
O verso que caço teimoso é o mesmo que depois me encarcera:
não sei bem se o poema me começa ou se é ele quem me encerra.
ESTRANHAMENTO
silenciosíssimo da madrugada
(ringue de sangrentas rinhas da palavra,
onde quem tomba é o fingidor, Mandrake
fracassado da cartola vazia
sem ilusionismo ou despiste
pois o poema é negação, antimagia
alquímica, a majestade do que não existe).
O susto persiste feito o frio da coxia
e acompanha o poeta nesta inglória
busca sem alvo, além da utopia
cega, vil, egoísta e melancólica
do homem e da sua chaga aberta: ferida
que não entende o fim como partida.
ESMO
e suas sombras
ausentes, camufladas.
Cerco a noite
e assim abafo
o gemido em sua madrugada.
Cerco a noite
e não sei o que me aguarda:
pistas de um poema ou ciladas?
Então ― cerco a noite ― insisto
em naus a pique, neste desabrigo
feito se fosse um náufrago distraído.
DO PÓ AO POEMA
Se cruzei os quase quarenta e as seis
sugando montes atrás de montes; se me seguro
só ao canudo úmido e escuro
como Teseu ao novelo; se me albergo de vez
na camuflagem do poema, ao sabor da tez,
e ainda sim o persigo trepado no alto do muro
e faço dele o alvo, ou o meu salário do mês;
se largo tudo enfim e borro a tinta num urro
entre o cansaço, o pó e a maquete perdida,
será talvez por isso mesmo: porque creio
que nada vai passar, pois que o verso é armadilha,
e se não consegue abrir o amém ao meio,
não há de salvar-me! O poema... Essa trilha
fantasma que me sangra: uma adaga no meu peito.
DESERTO
na bagunça vermelha e esma
das minhas veias que bombeiam
hipertensas meus versos de festim
que não matam a sede do poema
nem tampouco sopram o clarim
desta guerra que é muda e sem fim
pois pertence ao poeta esse problema
cuja solução lhe escapole definitiva
quando ignora o fato de que sua vitória
reside na caça infinda e no fel da derrota
que o qualifica a enfrentar outra armadilha
desenhada por este que risca, mas não existe,
inserido naquela dimensão vizinha dos reflexos
onde a ilusão toma a forma invertida dos nexos
e funda um mundo viciante, insatisfeito e triste.
Perdido e cego dentro de mim:
o poeta é demônio ou serafim?
quinta-feira, 15 de maio de 2008
PERFIL
e também sobre o que eu não gosto.
Não gosto de nunca ter escrito sobre gostos
e gosto de resolver o problema do gosto-não-gosto:
não gosto de vizinhos exceto quando preciso deles,
gosto da minha caneta e da minha lapiseira,
não gosto de artistas que se acham perfeitos,
gosto de acreditar que não existe coisa perfeita,
não gosto de comida nem de bebida muito quentes,
gosto de notar que choramos de alegria e de tristeza,
não gosto de emprestar minha caneta nem minha lapiseira,
gosto de saber que há fumaça em temperaturas extremas,
não gosto de ser egoísta e indócil ao mesmo tempo,
gosto de acompanhar cegos até quando eles queiram,
não gosto de dar meu lugar para idosos arrogantes,
gosto de ouvir walk-man e de cantar no ônibus,
não gosto de nenhum tipo de espera necessitada,
gosto de pressentir o gozo e de freiá-lo repetidas vezes,
não gosto de beber apressado, nem social e moderadamente,
gosto de conversar até o dia raiar com Cézar Ray,
não gosto de gente estranha na minha mesa,
gosto de não ter mesa e de ter todas ao mesmo tempo,
não gosto de chope que fuja da sua temperatura e tulipa ideais,
gosto de fumar charutos cubanos em datas singulares,
não gosto de ser bajulado e de tapinhas nas costas,
gosto de abraçar minha família, mulher e amigos,
não gosto de supermercados e de caixas de supermercados,
gosto de feira, de birosca, de pé-sujo, de chouriço de domingo,
não gosto de cemitério e de leitos hospitalares,
gosto de assistir ao making-off antes do show,
não gosto de paparicar meus poemas infinitos,
gosto de ser fiel ao “Ouça No Volume Máximo”,
não gosto de dias sem nuvens esperançosas,
gosto de mate bem forte com polpa de maracujá,
não gosto de almoçar nem de jantar bebendo cerveja,
gosto de ler revistas e dicionários de trás para frente,
não gosto de ser surpreendido com mudanças de planos,
gosto de ouvir sempre todos os discos do meu acervo,
não gosto de fazer, conquistar ou conhecer novos amigos,
gosto de sítios, fazendas, cachoeiras, serras e de pomares,
não gosto de filmes ou de quaisquer programas dublados,
gosto mais dos poetas e dramaturgos do que dos romancistas,
não gosto de cientistas sociais e antropólogos engajados,
gosto das ironias destiladas e do politicamente incorreto,
não gosto de obrigações pré-estabelecidas e de submissões prontas,
gosto dos não-compreendidos, dos retaliados e dos perseguidos,
não gosto daqueles que brincam e manipulam a fé das pessoas,
gosto de acender uma vela para o meu anjo da guarda de vez em quando,
não gosto de cobranças grosseiras e de sermões certinhos,
gosto de pagar a conta escondido para os amigos,
não gosto de ficar dois dias sem comer feijão,
gosto de chá preto na caneca e de torradas com requeijão,
não gosto de domingos depois do soar do meio-dia,
gosto de banana d´água, de banana ouro e de abacaxi geladinho,
não gosto de bolo de aniversário e dos parabéns robóticos,
gosto de brigadeiro, de beijinho, de cajuzinho e das bolas coloridas,
não gosto do meio-dia, das duas da tarde, das sete da noite,
gosto das cinco e meia da manhã e das folhas orvalhadas,
não gosto dos bares quando as mesas são suspensas,
gosto de sair para um outro bar e da boemia sem prazos,
não gosto de reuniões de mais de trinta minutos,
gosto do que o povo gosta e das decisões emblemáticas,
não gosto de lavar louça depois do almoço,
gosto de dar presentes sem datas marcadas,
não gosto de ser elogiado e de ser bem quisto,
gosto das verdades ao pé-de-ouvido,
não gosto de fofoca, do disse-que-disse venenoso,
gosto da roda de samba no quintal de casa,
não gosto de patrulha, de ovos no palco,
gosto de dizer tudo sem perder nada,
não gosto de janelas fechadas e de elevador,
gosto do verde, do azul, do magenta e do ocre,
não gosto da minha lucidez e do meu raciocínio lógico,
gosto de bolinho de chuva, de varanda e de saraus mágicos,
não gosto dos que acham que sabem de tudo e de todos,
gosto de libertar a arte do tronco da emoção,
não gosto do fardo pesado que os poetas carregam,
gosto de água mineral e de roupa larga,
não gosto de não saber tocar violão de sete cordas,
gosto do Rio de Janeiro, de Nova Iguaçu e da minha rua,
não gosto de falar muito e de ouvir pouco,
gosto de ser bom de cama, de trepar vultuoso,
não gosto que meus discos e livros fiquem longe de mim,
gosto de dirigir na Dutra e na Serra das Araras,
não gosto de não viver do fruto das minhas criações,
gosto de ser irmão de Cézar Ray, de Eloy e de Peregrino,
não gosto que me vejam chapando em tardes de dias úteis,
gosto das contradições, do inusitado, do bote da madrugada,
não gosto de tomar banho frio e de toalhas pequenas,
gosto de desodorante sem cheiro e de bucha vegetal,
não gosto de me levantar para falar com as pessoas,
gosto que se levantem para falar comigo e apertar a minha mão,
não gosto de puxa-sacos e de gente que não bebe álcool,
gosto de Pernambuco, de Minas Gerais e de Porto Alegre,
não gosto de viajar de ônibus, de trem e de barcos,
gosto de motocicleta, de F-1, de futebol e de tênis,
não gosto que me cobrem dinheiro que esqueci de pagar,
gosto da minha cachorrinha bagunceira e sem raça definida,
não gosto de rodeio, de música eletrônica e de boates,
gosto da beijar minhas irmãs, meus amigos e meus pais,
não gosto dessas instalações modernosas cheias de cocô,
gosto da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal,
não gosto de fardas, de uniformes e de cartão de ponto,
gosto de mulheres grávidas e de puxar assunto com elas,
não gosto de salas de bate-papos dos sítios eletrônicos,
gosto quando meus amigos me chamam de poeta,
não gosto de ser chamado de poeta por desconhecidos,
gosto de sair de fininho sem precisar das despedidas,
não gosto da Beija-Flor de Nilópolis e da Grande Rio,
gosto da Portela, da União da Ilha e do Império Serrano,
não gosto da pose definitiva da Fernanda Montenegro,
gosto do Neguinho da Beija-Flor, do Zeca e do Jamelão,
não gosto de definições, de julgamentos e de esteriótipos,
gosto de moinhos, de cheiro de café e de coador de pano,
gosto de cigarros fortes e de bebidas alcoólicas fortes,
não gosto de cinzeiros e de acender coisas com fósforos,
não gosto de ir sem ser formalmente convidado,
gosto dos pequenos gestos descompromissados,
não gosto de não poder ser claro e cristalino,
gosto do verbo aberto direto e diplomático.
Não gosto de amanhãs cheios de melancolia:
gosto deste agora abraçado e recheado de poesia.
NADA SERÁ COMO ANTES
surgiu um outro
mundo inesperado
algo não imaginado
como se o pano tecesse
a forma do bordado.
A partir de ti
nasceu um outro
gozo alucinado
um jocoso contrapeso dormente
que fluente me eleva
ao ser exorcizado.
A partir de ti
ressuscitou um outro
ser renovado
uma nova chance
como se eu recebesse
um coração doado.
A partir de ti
notei um outro
tom afinado
um sem nenhuma toada
como se eu ouvisse
o teu silêncio lacrado.
A partir de ti
capturei um outro
modelo de olhado
um que clama
sutil e de soslaio
para que os lábios sejam penetrados.
A partir de ti
inaugurei um outro
tipo de calendário
um de domingos repetidos
servos com sabor de meles
de duplos e infinitos pecados.
segunda-feira, 17 de março de 2008
sexta-feira, 14 de março de 2008
E se meu Deus eu ao menos pudesse
abrir uma fresta entre as faces lisas
e densas da tua alma afiada, feito messe
proibida, que fere em vez de ser ferida,
como se já não houvesse flor a ser resgatada
ou que de teus mistérios ninguém soubesse?
Por que insistir em manter as cortinas cerradas?
Qual será o sonho que conjuras em tuas preces?
E se meu Deus eu ao menos pudesse
receber um único voto teu que contivesse
o mapa desta terra que seria a minha flecha,
no ávido desejo de encontrar a tua brecha,
e por meio dela retirar-me, enfim, do ocaso
de todo o meu decadente espólio colecionado
pelos becos, vielas e semitons da madrugada,
dentro das suas fendas movediças e disfarçadas.
E se meu Deus eu ao menos pudesse
ser ubíquo e flutuar por onde estivestes,
deitar de mansinho em teu colo silvestre
e, repleto, sublimar isto que não amanhece,
que insiste em mim para contrariar a razão
exata da fórmula e do geométrico teorema genial:
fundir o que é dois numa única matéria cabal
misturada pelo magma bombeado do coração.
O amor é a liga ligeira do níquel barato e vagabundo.
Sem ele não há a aliança que tolera todos os versos do mundo.
Será o poema, enfim,
o que vagueia nômade,
sem sombra e sem nome
por dentro e fora de mim,
bem camuflado entre a matéria
— viajante silencioso, esmo,
ligeiro e que até para mim mesmo
esconde a sua identidade secreta?
Será ele o agente que desbrava
minhas vísceras, meu alfabeto
e por meio desta forma alinhava
o meu ser e sina por completo,
tecendo uma longa colcha de retalhos
com meus versos fatalmente fracassados,
para que depois eu morra asfixiado
nesta mortalha sem nunca tê-lo achado?
Será ele, sutil, o que insiste em travar
longas batalhas às bordas da madrugada
entre o papel branco e a provável palavra
que nunca estará, de fato, bem colocada,
pois decerto haverá uma outra agendada
nestas hostes que são sibilinas e fantasmas,
donas de um tempo, das horas enfeitiçadas
quando se cai do cavalo e ele na gargalhada?
Será ele que lacera, que blasfema... O poema
é que leciona em minh’alma e, eterno, me algema?
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Haverá
na maquiagem
das certezas,
alguém que dirá
dessa saudade impossível.
Haverá
na abordagem
das lembranças,
nosso dois-em-um distante
entre alianças de alvoradas.
Haverá
na miragem
da sua alavanca,
esta vontade inflamada:
a de sermos um e mais nada.
ÁBACO
Todo dia sempre
desisto de alguma coisa:
foice, lâmina, excremento.
Todo dia sempre
nunca termino a noite sem
o grito de um arrependimento.
Todo dia sempre
meço a distância amargurada
entre o que pode ser e o nada.
Todo dia sempre
não sei bem se estou
numa curva ou numa reta:
não sei bem se é o fim
ou se é um poema que começa.
EMBATES
Cada vez que te vejo,
não domino o desejo
de evitar teus olhos acesos
— dardos certeiros no alvo dos meus medos;
algo assim: um coração ao meio,
ora parado ora em tiroteio
ou uma vez a massa e na outra o recheio
(tímido), fruto escondido no arvoredo.
Cada vez que te percebo,
mais claro é o que almejo,
mesmo que a senha do teu segredo
vibre distante do meu lugarejo.
Cada vez que teu corpo se aproxima
confundo o que é sonho com o que pode ser sina.
REFAZENDA
Sobre poema de Eucanaã Ferraz.
1
Um modo de partir:
este pacto,
sangues quentes
rumo ao acto.
2
Um modo de ficar:
esta boca
pura entrelíngüa, tensa,
e preenchida.
3
Um modo de jamais voltar:
o sonho
nave amante dele mesmo,
balé suspenso entre vôos de alvoredos.
4
Um modo de retornar:
a esperança certa
cede ao peso do tudo,
ou à outra cara descoberta.
5
Um modo de, entre
versos, despressurizar
a luta,
o poema.
6
Um modo máximo
de fazer a cama
mais larga:
a outra metade.
7
Um modo de o poeta
dar-se macio: envolvê-lo
(sem as tatuagens do destino)
ao número do estribilho.
8
Um modo de ser,
exato, mas bailarino:
toda a lacuna completa
a Velha Guarda da Portela.
LACUNAS
É sobre buscas e lacunas
que trabalho, que transpiro,
que, sem trégua, denuncio
as asas inexatas e moribundas
do tudo que se encerra como acabado
— talvez o pretenso algoz de todo o poema —
ou a inexistência do desejo alcançado
na meta, horizonte, fim, estratagema:
ele, é reta eterna, o infinito sem medida,
aquilo que, de tão trêmulo, tão inefável, orbita
entre ângulos que a matemática, só, não habita,
não ajuda, não elucida e não quantifica.
Sigo para defender este algo que é mas não é,
o que apenas se aproxima mas não comparece,
a miragem que insinua mas não aparece,
a holografia das sombras, a sudorese.
Meu verso escala os muros,
desmorona na frágil língua do paraíso;
percebe, extenuado, a rebeldia do juízo
e a triste canção dos eunucos.
Meu poema é derrota,
é bolo solado, é rota
perdida sem mapa,
ele é bússola magnetizada.
— É a negação do meu tudo,
mergulhado no meu nada.
DESAFIO PSICOGRAFADO AO POETA
Eu sou o poema, mas, creia, não existo.
Sou apenas uma holografia das sombras,
um artefato herético que passeia, e vil,
desnorteia àqueles que surfam na onda
metafórica e destruidora das vertigens
─ e exibem o falso rascunho do meu mapa
ou de qualquer outro alucinado indício
da minha passagem por alguma estrada.
Feito testemunho de assombrações e mordaças,
de orações, devoção, promessas e feitiços,
ninguém me reconhece ao certo: puro ou mestiço?
Ninguém sabe se sou sonho ou os fantasmas
que rondam escorregadios pelas madrugadas,
e, sob ocultas frestas, assombram a pena e o nanquim;
deturpam a distância da mentira dum tudo maquiado
e o amargo abismo abrupto do nada: mas todo poeta morre assim,
lentamente, tal como fenece a insana dor duma paixão arredia,
baseada na inapetente esperança de que minha porta se abra
voluptuosa e fulgurantemente — como num conto de fadas —
e desperte as vontades ególatras que florescem em frágil poesia.
Sou mesmo a necessária, realista e delirante charada,
esta invisível ameaça que, se materializada, serviria à tirania
dos nobres Doutores e das Suas teses feudais sobre a palavra
(ou às Suas concepções bem articuladas de chapas definitivas,
como se eu fosse uma peça torneada de metalurgia,
produzida em série científica e cabalmente planejada
entre os burocratas, donos das neosenzalas e das papeladas
cheias de regras, censuras, fôrmas, crivos e bruta asfixia).
Sou o que não há, o salto preso nas garras do bueiro:
só bebo um copo. Não posso ser nenhum companheiro.
TEMPO AO TEMPO
“ E então me pergunto, a sós:
por que desdenhar o outrora
se nele é que ecoa a voz
do que, no futuro, aflora? “
Ivan Junqueira in “A Sagração dos Ossos”.
O poeta quer agarrar o todo simples do poema
e o busca na pedra — como a de Sísifo — quando entende
que o seu vinho não passa duma borra demente:
o resto, o bagaço, o que irá para o lixo fatalmente,
seja no ungüento amargo do agora ou na paciente
coleção de agruras, fracassos, tapinhas e armadilhas,
no sarcasmo doentio do verso e da sua forma aparente,
na praia que se insinua continente, mas que não passa duma ilha
solitária, desértica, coisa insignificante fora de qualquer mapa,
pedaço que não vingou, onde o que é vida, se canabaliza.
Ele não estabelece o vórtice, não porque recusa esta lida,
e sim, pois, se encontra mergulhado num imenso nada,
abrupto, quando o que lhe resta é um outro lado do muro,
única vertente possível diante da solidão, do profundo urro.
Não, o louco não escapa nem de si próprio, da teia que teceu
no labirinto do Minotauro: o poeta é valente, mas não é Teseu.
A palavra mora misteriosa no vento vadio de antanho,
numa gruta sombria, atemporal e sem qualquer tamanho.
O poeta, então, assassina a hora jesuíta:
mas o próximo instante, sempre a ressuscita.
Marlos Degani
- MARLOS DEGANI
- Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil
- Marlos Degani, Nova Iguaçu/RJ, é jornalista. Lançou o seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2006 e que conta com a apresentação do poeta Ivan Junqueira, imortal da Academia Brasileira de Letras, falecido em 2014. Em setembro/14 lançou o segundo volume de poemas chamado INTERNADO, também pelo formato e-book, disponível nas melhores livrarias virtuais do planeta. Em 2021, pela Editora Patuá, lançou o seu terceiro volume, chamado UNIPLURAL. Participa como poeta convidado da edição número 104 da Revista Brasileira, editada pela Academia Brasileira de Letras, lançada em janeiro/21, ao lado de grandes nomes da literatura brasileira.